piche.me (2011-2015)

Atualizado em 21 de novembro de 2023 por Caroline Speridião

Links

O piche.me foi uma rede social brasileira criada em 2011 por um grupo de amigos de Brasília durante um final de semana. Poucas referências mencionam o projeto em detalhes, no entanto o site possuía uma quantidade considerável de usuários na faixa etária dos 12 aos 16 anos. De acordo com o Correio Braziliense:

“Em 24 horas de um fim de semana, a equipe trabalhou para colocar no ar o piche.me, um muro virtual onde qualquer pessoa pode escrever o que bem entender. A simplicidade da ideia é inversamente proporcional ao sucesso que ela já alcançou. Em menos de cinco meses de existência, o piche.me registra uma média de 1 milhão de acessos diários, e seus fundadores começam a receber propostas de empresas interessadas no negócio.” 

CORREIO BRAZILIENSE, 2011

Em suas primeiras versões, a rede não solicitava login aos usuários de modo que qualquer pessoa, ao adicionar algum nome ao final da URL do site, poderia criar um muro, chamá-lo de seu e chamar seus amigos para pichá-lo. De acordo com um dos desenvolvedores do site, Tulio Ornelas, a ideia do piche.me surgiu ao assistir um documentário sobre o Muro de Berlim:

Foto do muro de Berlim em 1986, mostrando diversos grafittis e pichações coloridas separando a Alemanha Ocidental da Oriental.
Muro de Berlim em 1986. Fonte: Wikipedia.

“Ao assistir a um documentário sobre a queda do Muro de Berlim, o engenheiro de software Túlio Ornelas, um dos fundadores do piche.me, pensou que poderia haver, na internet, um lugar para que as pessoas reclamassem de forma anônima.”

CORREIO BRAZILIENSE, 2011

A ascensão e queda dos muros em imagens

Captura em timelapse do muro da homepage sendo ‘pichada’.

No piche.me usuários divulgavam seus muros, escolhiam diferentes imagens de fundo para seus muros e ‘pichavam’ mensagens cujas fontes tipográficas podiam ser escolhidas de uma lista pré-definida (em dezembro de 2012, aproximadamente 40 fontes), cujas cores podiam ser definidas livremente.

“Hoje, qualquer um pode criar seu muro sem fazer cadastro e ampliá-lo quase que infinitamente: basta descer a barra de rolagem.

Nessa toada, há atualmente 3 milhões de muros criados, alguns não tão ativos, e uma média de 100 tuítes por minuto fazendo referência ao site.

[…] O grupo também planeja melhorias. “A gente espera ampliar o cunho de rede social do site, criando um chat parecido com o do Facebook e um projeto, ainda em sigilo, que explore a localização dos usuários”, adianta Wesley Rocha, designer de interfaces.”

CORREIO BRAZILIENSE, 2011

Enquanto é impossível acessar o site hoje em dia, uma versão arquivada da página inicial, também um muro em si, pode ser acessada até hoje com a Wayback Machine.

Captura de tela da página inicial do piche.me, mostrando diversas pichações em variadas cores e fontes tipográficas.

Captura de tela referente a outubro de 2011 feita pela autora em 13 de junho de 2023. Fonte: Web Archive.

Modal de navegação do site com uma série de links para muros famosos ou recentemente construídos.
Captura de tela referente a outubro de 2011 feita pela autora em 13 de junho de 2023. Fonte: Web Archive
Página sobre o time do piche.me, contendo uma foto do time em um banco de praça azul sobre um fundo texturizado.
Captura de tela referente a outubro de 2011 feita pela autora em 13 de junho de 2023. Fonte: Web Archive.

Alguns elementos de interface também podem ser observados na versão arquivada, apesar de não serem funcionais:

Interface para adicionar uma pixação no site, com opções de customização de fonte, cor, peso e tamanho.
Captura de tela referente a outubro de 2011 feita pela autora em 13 de junho de 2023. Fonte: Web Archive.
Interface de para criar um muro na plataforma, com um campo delimitado para digitar sua URL e um menu dropdown para selecionar uma imagem de fundo para o muro.
Captura de tela referente a outubro de 2011 feita pela autora em 13 de junho de 2023. Fonte: Web Archive.

A temática e estética urbana adotada pelos criadores do piche.me é emblemática de uma era em que customizações visuais, como escolhas de fonte e cor, ainda eram comuns nas redes sociais. A ampla adoção da rede por crianças e adolescentes mostrava uma tendência de usuários jovens a buscar a internet para se expressar, seja com declarações de amor, reclamações ou autopromoção. A rede também se destaca por ter alcançado grande popularidade regional, tendo sido uma das raras redes sociais criadas no Brasil.

Em aproximadamente 2013, o layout do site passa por uma mudança que retira o muro ‘pichável’ da página inicial:

Interface do piche.me em 2013, agora sem um muro e com um layout típico de plataformas sociais do período.
Captura de tela referente a setembro de 2013 feita pela autora em 13 de junho de 2023. Fonte: Web Archive.

Em Dezembro de 2014 foi feita a última captura do piche.me no Wayback Machine. De acordo com os perfis de LinkedIn dos criadores, a rede saiu do ar no ano de 2015.

O site era popular entre um demográfico muito jovem, de pré-adolescentes a adolescentes. E foi assim que eu descobri o piche.me em 2011, com 11 anos, através do status de MSN de uma colega de classe. Por um tempo, ao relembrar da existência deste site, me perguntei se ele tinha existido mesmo ou era uma memória distorcida. Descobrir a história dessa rede esquecida não foi difícil graças ao artigo do Correio Braziliense e à Wayback Machine, porém é intrigante como uma plataforma regional relativamente relevante, com milhões de visitas por dia em seu auge, tenha sido tão rapidamente esquecida e nunca mais mencionada em blogs ou redes sociais depois de seu ápice de popularidade entre 2011 e 2012.

Observação da autora

Um pequeno registro por trás do Inspector

Mais um detalhe, talvez menos relevante na escala do projeto, é a ASCII art que os autores do piche.me colocaram no código fonte da página inicial. Esse pequeno trecho de texto corrobora um argumento futuro neste site no artigo sobre tipografia, que fala sobre o uso de caracteres não convencionais como modo de expressão dentro de espaços confinantes, desde o surgimento da ASCII art na época das máquinas de escrever até a história recente de usar caracteres Unicode como elementos decorativos em espaços informais e jovens da web. Infelizmente, ao conferir os mesmos links acessados em junho de 2023 em novembro, não foi possível encontrar o comentário de código por motivo não identificado.

Captura de tela do inspetor de elementos na página inicial do site mostrando uma ASCII art com o nome do piche.me em letras bold.
Captura de tela do inspetor de elementos no site tirada em 13 de junho de 2023.

Conclusão

Novamente, o caso do piche.me é mais um exemplo da importância de preservar a memória digital, com o fator adicional de ser uma parte genuinamente brasileira da história da web. O piche.me mostra, além do aspecto cultural de sua época, a importância de se lembrar de iniciativas e projetos nacionais, até mesmo como uma forma de compreender como a produção de sistemas digitais no Brasil pode ou não ser influenciada por referências estrangeiras, e o que tais influências dizem a respeito de nosso relacionamento com a tecnologia.


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Carol

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