Layout

Atualizado em 21 de novembro de 2023 por Caroline Speridião

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Neste artigo analisaremos padrões de layout notáveis da web ao longo dos anos. Estudar layouts na web significa, inevitavelmente, compreender as limitações e liberdades técnicas de cada período estudado.

Layouts web antes da WWW

Para compreender as transformações de layout na internet, é importante compreender os padrões de layout dos primeiros websites, antes da adoção da web por um público maior em meados de 1995. Denominado “Prof. Dr. Style” por Olia Lialina em Vernacular Web 3 (2010), o primeiro estilo predominante de layouts na web consistia de páginas web ‘cruas’, lineares, puramente textuais e sem elementos decorativos. O nome cunhado por Lialina advém dos criadores dessas páginas, majoritariamente professores de institutos de tecnologia da computação divulgando informações de contato e links para seus currículos. Os adeptos do estilo “Prof.Dr” eram early adopters da internet e estavam online antes mesmo do lançamento de navegadores web, da difusão internacional de World Wide Web e das linhas de internet discada.

Layout da página web do professor Werner Römisch, mostrando um exemplo de página web simples em formato de lista com a foto do professor alinhada à direita da página.
Exemplo do estilo “Prof.Dr”. Fonte: Prof. Dr. Style.

Popularização da WWW: entre divisórias bitmap, molduras e tabelas

Progredindo temporalmente para o ano de 1995, resquícios visuais do estilo ainda aparecem em produções web, agora feitas também por webmasters amadores. No entanto, é possível observar novidades no layout, como o uso de imagens decorativas. Um exemplo é a primeira página resgatada pelo projeto One Terabyte of Kilobyte Age, editada pela última vez em 30 de setembro de 1995:

Bruce's Home Page, um exemplo do final de 1995 mostrando um layout de página linear repleto de divisórias bitmap e com uma imagem do personagem Calvin, de Calvin e Hobbes.
Fonte: One Terabyte of Kilobyte Age.

Uma funcionalidade HTML central à criação de páginas web amadoras no final dos anos 1990 é a tag <frame>. O propósito do elemento <frame> é dividir uma página web em múltiplas seções ou ‘frames’, cada um podendo carregar conteúdo independentemente. Os elementos HTML de um frame poderiam vir de sites externos ao site sendo visitado, algo que atualmente é considerado uma violação ao conceito de segurança digital denominado Política de mesma origem (Same Origin Policy). A tag era polêmica entre usuários por não ser suportada em todos os navegadores web, além de possuir problemas de acessibilidade e usabilidade. No entanto, o frame continuava sendo uma ferramenta de fácil uso para amadores usuários do Netscape, sendo utilizada na criação de diversos sites no Geocities. Frames podem ser identificados pela sua moldura semelhante à da interface do browser, sendo predefinida por ele.

Um layout de site no Geocities usando frames para dividir a página em três partes: um contador de visitas, um menu de navegação, e o espaço para o conteúdo principal do site.
Exemplo de site produzido utilizando frames. 1997. Fonte: One Terabyte of Kilobyte Age.
Página de plano de fundo estrelado oferecendo duas opções de layout: com e sem frames. Após os links das opções, há um GIF de um dragão vermelho.
Exemplo de site com uma página bifurcada com duas escolhas para o usuário: visitar o site construído com ou sem frames. 2000. Fonte: One Terabyte of Kilobyte Age.

Outro aspecto interessante da produção amadora de websites no final dos anos 1990 e início dos anos 2000 é a existência de sites com layouts líquidos. Usuários utilizavam telas de resolução 640x480px, 800x600px ou 1024x768px. Por esse motivo, alguns webmasters decidiam criar, manualmente, versões diferentes de seus sites. Cada versão era otimizada para uma resolução de tela diferente. O exemplo abaixo, de cerca de 1999, mostra um site com as opções de 1024×768, 800×600 e “não faço ideia”.

Página web Diablo Hack Emporuim, com um fundo em textura de mármore, botões com textura de pedra e textos em cor vermelha. Detalhe para o GIF de uma vaca 3D no canto superior direito, próximo ao logo.
Captura de tela de um site com opções de layout líquido em aproximadamente Janeiro de 1999. Fonte: Web Archive.

Sites como o exemplo acima mostram que o conceito de design responsivo para dimensões diferentes de tela esteve presente desde os primórdios da Web, não sendo somente um conceito recente causado pelo surgimento de smartphones.

No web design corporativo, frames não possuíam o mesmo protagonismo. No entanto, layouts baseados em bitmap, fatiados em softwares de edição de imagem como Macromedia Fireworks e Adobe Photoshop, eram comuns e permitiam aos web designers profissionais liberdade criativa.

O layout da página consiste de um fundo estrelado, e um menu de navegação que orbita ao longo do logotipo do filme, em que cada página corresponde a um planeta colorido.
Website do Space Jam em 1996. Fonte: Web Design Museum.
O site possui um layout semelhante à interface do próprio Windows 95, com o fundo de céu diurno e um menu de navegação dentro de uma janela.
Site do Windows 95 em 1996. Fonte: Web Design Museum.

Com a aquisição do Geocities pelo Yahoo no final dos anos 1990, templates foram lançados e seu uso era encorajado. Tais templates apareciam por padrão para o usuário e forneciam aos usuários locais específicos para inserir suas informações e uma divisão informacional similar aos perfis de redes sociais que seriam popularizados na Web 2.0.

Um template consideravelmente restritivo ao usuário, possuindo uma decoração azul no canto esquerdo da tela e áreas específicas para que o usuário preencha com suas informações, como hobbies, links e sobre.
Captura de tela do template Personal Page Blue de 1999. Olia Lialina, 2021, p. 184.
Outro template, desta vez mais linear e inspirado na estética do filme Matrix, com um fundo escuro repleto de números verde escuros e texto em verde.
Captura de tela do template techie2, Olia Lialina, 2021, p. 168.

Outro elemento HTML presente na Web 1.0 e início da Web 2.0 era a tag <table>, em que usuários construíam seus layouts para desktop usando tabelas, algo indesejável na maioria dos casos atualmente por conta da ampla gama de dimensões de dispositivos. Um exemplo popular é um dos primeiros registros na Wayback Machine de google.com em Dezembro de 1998. Se você acessar o link e inspecionar os elementos da página, pode-se ver que a área que contém a barra de pesquisa e outros links consiste de uma <table> simples.

Página inicial do Google Beta em 1998, com o logotipo sendo seguido de uma tabela cinza e verde com os campos de pesquisa, links, e formulário de newsletter.
Google.com em 1998. Fonte: Web Design Museum.

Blogs, feeds, smartphones e a tendência da linearidade

Com a ascensão das redes sociais, a ideia de perfis pessoais torna-se ainda mais forte do que em suas iterações no Geocities do novo milênio. Nos perfis do MySpace, os espaços para input do usuário já eram pré-delimitados em colunas e seções separadas. No caso do MySpace em 2006, o layout ainda era criado com a tag <table> mencionada previamente.

Perfil no Myspace com fundo de polka dots multicoloridos e uma divisão em tabela para o usuário customizar com seu conteúdo.
Perfil no MySpace da cantora Lilly Allen em dezembro de 2006. Fonte: Web Archive.

Em blogs os layouts dos anos 2000 mostravam um sistema de duas colunas, com uma coluna principal contendo posts, e uma coluna lateral com banners e widgets.

Blog do Paramore com paleta de cores verde escura e diversos elementos skeumórficos, além do uso de imagens como texto.
Website da banda Paramore em 2006. Fonte: Web Design Museum.

Com a popularização dos smartphones, começam a surgir discussões sobre como criar designs funcionais para dispositivos móveis. Em 2010, Ethan Marcotte cunha o termo “Design Responsivo” em seu artigo para o site A List Apart para definir designs que respondem às dimensões de tela do dispositivo sendo utilizado.

Designs modulares que utilizam recursos CSS como flexbox e grid são comuns atualmente pela fácil implementação do design responsivo.

Layout do site da Gamespot que mostra a pervasividade de layouts ultra minimalistas mesmo em sites de entretenimento, com um fundo branco e cantos das imagens sem arredondamento e tipografia sem serifa, além de logo minimalista.
Website da Gamespot em 2023, visualização de desktop. Fonte: Web Design Museum.
Layout mobile do site mostrado anteriormente, mostrando, agora no layout mobile, somente uma coluna e ausência de margens.
Em comparação, website da Gamespot na visualização mobile de 360x680px. Fonte: Gamespot. Acesso em 11 de junho de 2023.

Ao observar os exemplos acima e layouts de feeds sociais em geral, podemos observar que o formato vertical do smartphone incentiva layouts lineares quando comparado ao desktop. O espaço reduzido das telas dispositivos móveis também tende a significar menos espaço para customização e experimentalidade, no entanto essas hipóteses estão sendo baseadas em layouts cujos objetivos de UX estão baseados na linearidade: por exemplo, em um feed de rolagem infinita, a verticalidade da navegação é algo importante na experiência. Nesse contexto, vale questionar se possibilidades menos lineares de layout poderiam ser aproveitadas no design responsivo para outros objetivos em que feeds infinitos não são prioritários. Além disso, devemos questionar como seriam essas experiências web móveis alternativas às narrativas digitais ultra lineares de redes sociais.

Tweet por Vincent Flanders, autor de guias de webdesign nos anos 1990, dizendo: People keep asking me, What's web design in 2016? Simple. It's whatever Google wants it to be.
Fonte: Twitter, 2016. Acesso em 12 de junho de 2023.

Pode-se argumentar que vivemos, possivelmente, o fechamento de um ciclo na lógica de layouts na web. Nos vemos novamente em um momento de paradigmas dominantes lineares e minimalistas, não muito diferentes em superfície da primeira estética notável da web, o estilo “Prof.Dr.”, apesar dos contextos e motivos profundamente diferentes.


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Carol

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