Histórico de navegação: um prólogo

Atualizado em 6 de março de 2024 por Caroline Speridião

Nesse artigo, irei descrever minha história pessoal crescendo e existindo na internet, explorando as motivações por trás do nascimento desse projeto.

A experiência infantil semi-online (2005-2011)

Nascida de uma mãe designer e pai engenheiro no ano 2000, sempre fui incentivada a experimentar com ferramentas digitais e utilizá-las para me expressar. Desde muito pequena fui ensinada HTML, manipulação de imagens e modelagem 3D por minha mãe e irmão mais velho, ex-aluno da FAUUSP. Além das ferramentas, eu também acessava alguns websites escolhidos por meus pais, que compreendiam os riscos de expor uma criança tão nova a um imprevisível oceano de conteúdo como o da Internet nos anos 2000. Meus espaços digitais consistiam de sites educacionais ou de jogos adequados para minha idade, como Scratch, Barbie e Disney. Esse universo digital, junto de meu universo no mundo real, eram refletidos em meus projetos pessoais do período, que, por simples que fossem, já refletiam aspectos da cultura digital como gráficos 3D, pixel art, skeumorfismo e o uso da cor como expressão de gênero replicando comportamentos aprendidos com meus arredores. Lembro também de meu fascínio pelas interfaces gráficas do Windows XP e Vista, algo que acaba, curiosamente, por tornar-se uma referência relevante para o desenvolvimento deste Trabalho em sua fase prática.

Eu com 7 anos mexendo no 3Ds Max.
”Usando o 3Ds max”, fevereiro de 2008.
Um rascunho de página HTML que fiz com 7 anos, contendo um banner em JPG com o título Diariopédia.com.br, seguido de um texto em Verdana em caixa alta: APRESENTAÇÃO. Além disso, não há mais nada na página extremamente cor de rosa.
Print do “site Caroline.html”, outubro de 2007.
Um render 3D de um carrinho de supermercado rústico.
”meu primeiro freela | cliente: meus pais”, 3Ds Max, 2009.
Uma garrafa vermelha com um smiley, feito em pixel art.
Sprite para um projeto Scratch, agosto de 2009.
Uma estrela pink girando 360º.
”Starfashion”, 3Ds Max, 2010.

Adolescência e seus refúgios digitais (2011-2018)

Ao amadurecer e ser permitida por meus pais um acesso (um pouco) menos restrito à Internet, começava meu divago pelas admiráveis novas redes da Web 2.0. Como a maioria de meus contemporâneos possivelmente, lembro-me de usar o Facebook e compartilhar memes que, quase sem exceção, usavam a fonte Impact, entre outros clichês da época, como usar letras gregas no MSN para transformar uma mera Caroline em uma objetivamente superior ❤Cαrolzinhαh❤. No entanto, ao longo da década de 2010 minha presença tornou-se cada vez mais prevalente no Tumblr, uma plataforma em que encontrei comunidade, inspiração criativa e até amizades. Como uma adolescente com interesses específicos e dificuldade de encontrar pertencimento dentro da escola, busquei em fandoms o compartilhamento de interesses musicais e artísticos, além da exposição a novas referências, estéticas e perspectivas. Enquanto o Tumblr é, como empresa, claramente uma plataforma que utiliza da criação de conteúdo para sustentar seu negócio, ainda chamávamos nossos blogs de “nossos Tumblrs”, ou, como o seu fundador David Karp chamaria, “Tumblelogs”. Esse pertencimento provavelmente relaciona-se com o fato de que cada blog era (e continua sendo) único e totalmente customizável, em uma homeostase entre a lógica ‘Facebook’, postagem de conteúdo em linha do tempo sem controle do usuário sobre sua aparência, e a lógica ‘Web 1.0’ de cultivo de espaços visualmente individualizados através da customização de templates.

Meu blog, mostrando um background vinho e posts com uma imagem do David Byrne e outra imagem da arte de Yayoi Kusama.
Página 156 de meu blog no Tumblr, conteúdo compartilhado em dezembro de 2013.
Um grid de 6x4 mostra diversas imagens que compartilhei em meu Tumblr em outubro de 2013.
Imagens compartilhadas em meu blog em outubro de 2013.
Eu tweetando no PC dos meus pais com 13 anos.
Postando um tweet, aproximadamente julho de 2013.

Graduação e vida hiperconectada (2018-2023)

Até a entrada na faculdade eu não tinha um smartphone. Desse modo, a entrada na faculdade também foi uma entrada tardia no mundo das redes sociais convencionais ao ganhar um dispositivo móvel. Com essa mudança migrei minha presença digital para o Instagram e Reddit, deixando para trás a conta do Tumblr, cujo acesso perdi. No ínterim entre 2018 e 2020, fui assimilando-me ao mundo digital comum das grandes redes sociais sem muito questionamento e seguindo com minha vida acadêmica. Só durante a pandemia, com um boom de conteúdo nostálgico e escapista, o interesse da imprensa de Design internacional sobre a internet dos anos 1990 e com a realização dos meus primeiros trabalhos de design digital na graduação, foi que surgiu minha faísca de curiosidade pelo lado histórico do web design para além da nostalgia: como usuária que viveu parte considerável dessa história de aproximadamente 3 décadas da World Wide Web, há um desejo de construir interfaces e experiências que levem em consideração toda a bagagem cultural possível sobre o que é, foi e será o estar e criar em ambientes digitais.