Etnografia do web design

Atualizado em 23 de novembro de 2023 por Caroline Speridião

Neste capítulo, será feita uma análise etnográfica do folclore digital com ênfase em elementos de mídia e design na web, com o objetivo de obter insights sobre as motivações, comportamentos e contextos culturais acerca do consumo e produção do folclore digital. Isso será feito através de duas partes: primeiramente um painel semântico/linha do tempo que abrange imagens e representações de mídia de 1995 a 2013, e por último uma série de artigos em texto explorando as transformações da web sob variadas perspectivas.

De acordo com Olia Lialina e Dragan Espenschied em seu livro Digital Folklore, folclore digital refere-se às práticas culturais, narrativas e artefatos que emergem e desenvolvem-se dentro do âmbito digital. Ele abarca as tradições coletivas, costumes e experiências compartilhadas que surgem e circulam online, consolidando um folclore específico da era digital. O folclore digital inclui memes, vídeos, sons, GIFs e outras formas de conteúdo digital que espalham-se por comunidades online. Esses artefatos e práticas caracterizam-se por sua natureza participativa, pois são criados, modificados e compartilhados por diversos usuários através de múltiplas plataformas, por vezes até mesmo alterando os arquivos em si. Um caso famoso é o deep fried meme, um meme em formato JPG salvo e editado com filtros tantas vezes a ponto da compressão de imagem distorcer cores e dificultar a leitura visual da figura.

Meme deep fried com vinheta alterada da CNN reportando: NASA FINDS A FRESH NEW PAIR OF TIM🅱️S.
Exemplo de Deep Fried Meme. Fonte: Know your Meme.

Lialina e Espenschied argumentam que o folclore digital está enraizado na cultura vernacular online e reflete os valores, crenças e senso de humor de comunidades online, representando uma forma de expressão cultural e de identidade no âmbito digital.

Com relação às criações de usuários durante a Web 1.0, a maioria dos exemplos mostrados é oriundo de produções hospedadas no site GeoCities, pois esse website é um dos principais focos de restauração e conservação web atualmente, algo mencionado no artigo dedicado ao projeto One Terabyte of Kilobyte Age. De acordo com Olia Lialina:

“Nós do Geocities Research Institute e várias outras pessoas (artistas, acadêmicos, arquivistas) aparecemos com achados, obras de arte e PhDs relacionados ao Geocities não porque estávamos originalmente interessados nos bairros dos Geocities, nas intenções e expressões de seus habitantes, ou por conta da visão de David Bonnet sobre o ciberespaço. Todos nós usamos o Geocities pois, há 10 anos, o Archive Team resgatou os arquivos e publicou eles em um formato que nos permitia fácil acesso.”

Um fator importante também é o fato da cultura remix, conceito muito mencionado nos anos 2000 e pervasivo até hoje, permitir aos usuários o reaproveitamento de mídia usada no passado, além de permitir que os usuários criem peças novas de mídia com estilo ‘vintage’, como é o caso dos novos microbanners(ou blinkies), famosos no Neocities, que usam a estética Geocities / anos 90 para passar mensagens atuais.

Blinkie com texto escrito: genderfluid pride.
Fonte: blinkies.cafe.
Blinkie com texto escrito: NFT? No Fucking Thanks.
Fonte: Neocities.
Blinkie com texto escrito: CRINGE IS DEAD. No canto direito, há uma estrelinha arco-íris dançando.
Fonte: Tumblr.

Desse modo vale ressaltar que é impossível, ou simplesmente difícil demais, delimitar quais artefatos de mídia representam definitivamente uma época ou outra. Com esses fatores em mente, sinta-se à vontade para navegar através da história digital com todas suas peculiaridades.


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